tirando a parte das crianças, esse divã é meu, martha.
'não me sinto uma mulher como as outras.por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações.
mas segui todos os mandamentos de uma boa menina:
brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo.
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quem me vê caminhando na rua de salto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras.
penso como homem, mas sinto como mulher.
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não me considero vítima de nada.
sou autoritária, teimosa e um verdadeiro desastre na cozinha.
peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia.
vida doméstica é para gatos.
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hospedo em mim uma natureza contestadora e aonde quer que eu vá ela está comigo, só que sou bem-educada e não compro briga à toa.
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o coração sempre foi gelatinoso.
faz eu dizer tudo ao contrário do que penso:
nessas horas não sei aonde vão parar minhas idéias viris.
basta me segurar pela nuca e eu derreto, viro pão com manteiga, sirva-se.
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sou tantas que mal consigo me distinguir.
sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção.
num piscar de olhos fico terna, delicada.
não costumo ser enigmática, ao contrário, sou bem objetiva.
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se eu lhe disser que estou com medo de ser feliz para sempre, o que você diria?
se ser feliz para sempre é aceitar com resignação o pão nosso de cada dia e sentir-se imune a todas as tentações, então é desse paraíso que quero fugir.
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desde criança, o meu desejo maior não era visitar a Disney, ou morar num sítio.
eu queria era crescer.isso sim é que deveria ser divertido, eu pensava.
e não me enganei.
nada é mais encantador que a independência.
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vivo em busca constante, tento investigar tudo que me soa estranho, sigo atenta a cada emoção, não me acomodo nem me acostumo com coisa alguma.
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se algo der errado é só chamar um adulto.'
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martha medeiros - divã
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